Os aspectos arquitetônicos das residências afetam diretamente as questões psicológicas, sendo assim, a ressignificação do lar associada às particularidades materiais alteram comportamentos humanos.
A qualidade do ambiente construído tem o poder de guiar as sensações absorvidas pelos seus usuários através de seus elementos. Diante disso, a percepção espacial deriva dos estímulos sensoriais, ou seja, o estado psicológico dos usuários responde as variáveis captadas.
É por isso que boas práticas precisarão ser cada vez mais aplicadas nos projetos, como a Biofilia, a fim de que promovam a qualidade de vida esperada.
De que forma o Design Biofílico se materializa no espaço e como pode ser aplicado?
O Design Biofílico tem como objetivo conectar os humanos à natureza. Pode ser aplicado nos espaços com uso de silhuetas orgânicas, usufruindo da relação luz e sombra em sua maior expressão, elementos próprios da natureza expostos, como a madeira, a água, a vegetação e a luz natural.

A arquitetura possui um papel importante como sendo a única arte obrigatória que tem o poder de estimular todos os sentidos. Uma arte possível de captar toda sua complexidade perceptiva por meio do silêncio. Nada passa desapercebido das experiências na arquitetura. Seja pela passagem da luz na transparência, seja pela projeção da sombra, nas texturas ou nos materiais.
Divergente das outras artes, a arquitetura acompanha a rapidez das assimilações sensoriais. Ela tem o poder de transformar as circunstâncias cotidianas, pois, só ela pode despertar tais percepções.
A arquitetura é a esfera física da vida humana. Por isso que ao projetar, seja no macro, como o urbano ou seja em projetos arquitetônicos, condições como segurança, facilidade de orientação e ainda a sociabilidade, devem ser vistos.
De modo geral, os projetos que possuem proporção, simetria, equilíbrio e ritmo geram uma sensação de tranquilidade. A ordem arquitetônica é atraente, funciona como um modo de defesa, os ambientes que deixam rastros de constância e previsibilidade geram um maior descanso mental.
Vê-se que a arquitetura e o corpo são intrínsecos. O papel do arquiteto é criar pensando na extensão dos sentidos, pois eles trabalham em uma soma, quando se absorve algo de alguma coisa isso chega aos sentidos de uma vez só.
O sistema humano recebe os estímulos externos e os transforma em impulsos nervosos. As sensações humanas são determinadas pelo sistema dos sentidos, sendo ele de ordem auditiva, visual, olfativa ou até mesmo psíquica, após captados geram os impulsos nervosos.
A maior parte das captações está fora das percepções primárias do consciente. Para alguns especialistas 90% delas são inconscientes, é por isso que facilmente pode-se estar alheio a algo que está prejudicando no espaço e não se perceba.
O fato de não atribuir o devido valor ao ambiente construído é maléfico, pois na realidade não existe ambiente “Neutro”. Seu ambiente construído está ajudando ou prejudicando você!
A arquitetura vem passando por mudanças ao lado de um mundo altamente tecnológico. Um exemplo disso é a constância de imagens que está de fácil alcance. Alguns valores da arquitetura têm se perdido juntamente com essas transformações.

Na era dos processos acelerados, onde ocorrem consecutivas cisões culturais, as tradições se enfraquecem. A junção desses fatores impacta na forma de projetar dos arquitetos, simultaneamente com uma sociedade que vive uma indiferença aos sentimentos e um mercado acelerado onde as tecnologias possibilitam a representação de forma rápida, acrescida a clientes imediatistas, que exigem cada vez mais resultado em um curto espaço de tempo.
A funcionalidade por um bom período foi tida como sinônimo de um bom projeto. Mas criou-se um problema, o resultado foi um empilhamento de caixas em massa, vinculado ao consumismo. A resultante foi um fenômeno onde as unidades habitacionais se tornaram cada vez mais compactas, apartamentos cada vez menores, prédios mais altos com mais moradores empilhados.
Aos poucos vem acontecendo um despertar das correntes como a psicologia ambiental, que a arquitetura inicia um processo de consciência coletiva.
Um estudo realizado na década de 80 apontou os primeiros benefícios de ambientes com acesso à natureza. O experimento realizado entre 1972 e 1981, com pacientes de um hospital na Pensilvânia, verificou que dos vinte e três pacientes com vista para o externo, para a natureza, tiveram suas estadias pós-operatórias mais curtas, consumiram menos analgésicos e obtiveram menos comentários negativos dos seus cuidadores.
O contrário também é verdadeiro, os outros vinte e três pacientes que tiveram a vista apenas para as paredes de tijolos, não obtiveram tantos resultados positivos. As pessoas respondem melhor a recuperação psicológica e tem melhor concentração quando passam tempo em ambientes naturais ou ao menos observando cenas naturais, ou seja, a recuperação e reabilitação, sejam de fatores fisiológicos ou emocionais reagem ao poder restaurador da interação com o meio ambiente.

Indo adiante, é possível afirmar que, a forma de projetar da arquitetura contemporânea pode ser um fator gerador de ansiedade. Um paradigma presente nas construções atuais, são os edifícios que quando não neutros, sob o espectro dos benefícios restaurativos, eles muitas vezes são maléficos, gerando desgaste e fadiga, tanto física quanto psicológico.
Num outro estudo foi possível perceber que, pessoas que trabalham em ambientes os quais possuem elementos naturais, como as plantas e a luz natural, reagem sendo quinze por cento mais criativos, aumentam em seis por cento a produtividade e se mostram ter quinze por cento a mais de bem-estar (DETANICO et al, 2019).
Diante de tal situação tem-se despertado um interesse pela arquitetura biofílica, linha de estudo que retrata a relação homem/natureza, e a necessidade de pertinência humana a ela.
A corrente propõe meios para solucionar as carências dos edifícios contemporâneos, em uma sistêmica com a criação de “habitats” que permita a satisfação da experiência junto ao meio natural, dentro do contexto da obra, resultando em saúde e bem-estar aos usuários.
Tanto que, viver ou trabalhar em ambientes com essa proposta, podem diminuir as sensações de raiva, ansiedade, depressão e estresse, possibilitando sentir-se calmo e inspirado (DETANICO et al, 2019).
